Caixa de novembro

novembro 2024

A caixa de novembro traz uma nova edição d’O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial, “consideravelmente revisado e devidamente ampliado”, com setenta objetos em que a poeta, ensaísta e professora portuguesa Patrícia Lino, com precisão e sarcasmo, denuncia a persistente mentalidade colonialista de seu país, lançando luz crítica sobre as “admiráveis facetas” de um passado que continua achando formas de não passar. Os assinantes também recebem a plaquete Cacto na boca, de Gianni Gianni, poeta e editora de Recife. Contra o teatro intolerável da vida, uma voz se ergue para dizer que não vai continuar atuando e, mais ainda, não vai aceitar os papéis a que tem sido relegada em meio a figuras — bem pouco ou nada ficcionais — nessa peça em que sempre aparece alguém para lhe enfiar as “regras do jogo” goela abaixo. Os cactos engolidos, no entanto, se transformam “numa metralhadora de espinhos […] na garganta”.

Livro de novembro

Desde sua primeira edição, O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial, de Patrícia Lino, ocupa um lugar único na poesia contemporânea, ao converter — e ridicularizar — a persistente mentalidade colonialista de Portugal em objetos (brinquedos, utilidades, livros etc.) que, com precisão e sarcasmo, denunciam as “admiráveis facetas” de um passado que continua achando formas de não passar.

Nos setenta objetos (em sua maioria inéditos) que compõem esta edição “consideravelmente revisada e devidamente ampliada” do seu incontornável Kit…, a poeta, ensaísta e professora portuguesa recorre à poesia visual e ao humor para propor uma reflexão crítica sobre as feridas ainda abertas pela colonização. Lino atravessa a história de seu país e recolhe peças em que se cristaliza uma visão de mundo que não é capaz de (ou não quer) reconhecer o quanto de violência se conserva em seus “orgulhos nacionais”.

As pastilhas Descobrimentos, uma coleção de pins, a “portugalidade”, as caravelas aromáticas, toda essa série de objetos abre os olhos para uma imagem que o país se recusa a ver no espelho. E é claro que não se trata apenas de Portugal: a partir da experiência inventiva que é ler e pensar com este livro, os leitores saberão imaginar novos objetos para combater outros colonialismos que persistem ao nosso redor. E dentro de nós.

Plaquete de novembro

Cacto na boca pode ser lido como um único poema em forma de peça teatral. Ou como uma série de poemas que constroem uma denúncia do teatro intolerável em que a vida se converte. Mas a voz que, aqui, faz do poema um teatro, ergue-se para dizer que se nega a continuar atuando e, mais ainda, a aceitar os papéis a que tem sido relegada pelo “colega branco”, pela “amiga branca” e também pelo “crítico branco”.

O fato de essas figuras serem bem pouco ou nada ficcionais (não demora para que os leitores reconheçam, no palco do poema, seus próprios papéis) explica a urgência da poesia de Gianni Gianni, em que os traços mais instigantes e combativos da produção contemporânea se fazem sentir. “É sempre útil ter um cacto à mão”, ainda mais se lhe couber o papel de “atriz não branca” nessa peça em que vão lhe dizer que não vale gritar, em que sempre aparecerá alguém para lembrar as “regras do jogo”.

São muitos os cactos enfiados goela abaixo. No entanto, os versos de Gianni são a prova de que os cactos engolidos podem se transformar “numa metralhadora de espinhos […] na garganta”. Ou a partir da garganta, mirando alto. A força dessa voz que se constitui pelo acúmulo de incômodos, de violências que a invadem, é impressionante. Aliás, “observa se/ ao te retirares das páginas/ levas espinhos nos dedos”. É certo que levarás.

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