Caixa de janeiro
Na caixa de janeiro, os assinantes recebem os primeiros exemplares do “ano amarelo” do Círculo de Poemas. Começamos nosso quinto ano com o livro Antologia mamaluca, de Sebastião Nunes. Reunindo mais de uma centena de trabalhos, a antologia organizada por Fabrício Marques está repleta da verve ácida e sarcástica de Nunes, que tanto choca quanto cativa leitores desde os anos 1960: como diz o poeta, “ser rotulado é começar a morrer artisticamente”. De fato, seus poemas passam longe de qualquer rótulo, ocupam um lugar único na cena poética e expressam uma vitalidade criativa — e não menos combativa — que se mantém intensa até os dias atuais. Sempre atento e inconformado, Sebastião Nunes capta e denuncia a tragicomédia de nosso tempo. Também vai na caixinha a nova plaquete de Luciany Aparecida. Juntando-se a Macala, publicada pelo Círculo de Poemas em 2022, Aziri é a segunda plaquete da trilogia de poemas da premiada escritora, em que os versos dialogam com fotografias de mulheres negras do século XIX. Agora, a autora vai ao encontro da africana Aziri Dagwa — personagem principal de seu novo romance, Tinta da Bahia, ainda inédito — para afrontar o apagamento que recai sobre a história dessa “mana” em que a poeta vislumbra o “brilho presente de nossas ancestrais”.
Livro de janeiro
Autor
Sebastião Nunes
“Ser rotulado é começar a morrer artisticamente” — essa afirmação do poeta Sebastião Nunes, em entrevista a Fabrício Marques em 2008, é uma ótima divisa para a obra de uma vida inteira que se mostra nas páginas de Antologia mamaluca. De fato, seus poemas ocupam um lugar único, não se dobram a qualquer rótulo e expressam uma vitalidade criativa — e não menos combativa — que se mantém intensa até os dias atuais.
Não há dúvida de que estamos diante de um poeta, mas o que ele exige vai bem além da leitura. Como afirma Ademir Assunção na orelha do livro, a obra de Nunes se caracteriza por uma “inusitada engenharia de texto, fotomontagem, tipografia, cartum e distorção gráfica que utiliza para fustigar sem dó, e com humor implacável, a idiotia humana expressa em convenções sociais, políticas e até mesmo literárias”.
Desde os anos 1960, é essa engenharia mamaluca, ácida e sarcástica, que tanto choca quanto cativa leitores das mais diferentes gerações. Na sua obra poética, mas também ficcional e ensaística, além do trabalho como editor da Dubolso, Sebastião Nunes sempre esteve atento e inconformado, captando e denunciando a tragicomédia de nosso tempo.
Organizada pelo poeta Fabrício Marques, esta edição da Antologia mamaluca reúne mais de uma centena de trabalhos do poeta, retirados dos livros Última carta da América (1968), A Cidade de Deus (1970), Finis Operis (1973), Zovos (1977), O suicídio do ator (1978), Serenata em B menor (1979), A velhice do poeta marginal (1983), Papéis higiênicos (1985), Poesias (1988) e Aurea Mediocritas (1989).
Plaquete de janeiro
Autor
Luciany Aparecida
Quem é Aziri? Quem é essa mulher, identificada como “africana da nação Mina”, na fotografia de Christiano Junior, de 1864-1865? Ela é Aziri Dagwa? Francisca Maria? Chica d’Água? Qual era seu nome antes do sequestro? Os versos de Luciany Aparecida não podem desfazer o apagamento que recai sobre essa história, mas revelam a travessia de uma das grandes autoras da atualidade em busca de uma “mana” em que vislumbra o “brilho presente de nossas ancestrais”.
Aziri é também a personagem principal do novo romance de Luciany Aparecida, Tinta da Bahia, ainda inédito. O livro contará a história ficcional da africana Aziri Dagwa, criança sequestrada na região do rio Níger, no Mali, e traficada para o Brasil a partir do Benim, na chamada Costa da Mina. Na Bahia, Aziri foi batizada como Francisca Maria e, depois, ficou conhecida como Chica d’Água, em Valença, no litoral baiano.
No poema, Aziri renasce, se faz eterna “assombrando poemas”. Na cadência suave dos versos, é possível ouvir sua voz, seu lamento, seu regresso. E tudo é muito luminoso ao seu redor, porque Aziri volta para fazer festa, para dar um basta ao “convívio sequestrado” e dizer, de uma vez por todas, “vamos, irmã, caminhemos juntas”.
Aziri é a segunda plaquete de uma trilogia em diálogo com fotografias de mulheres negras do século xix. A série começou com Macala, primeira plaquete do Círculo de Poemas, de janeiro de 2022, escrita a partir da clássica fotografia Mulher negra da Bahia, de c. 1885, de Marc Ferrez. A terceira plaquete da série será publicada em 2027.