Caixa de dezembro

dezembro 2024

A caixa de dezembro do Círculo de Poemas apresenta o livro Se o mundo e o amor fossem jovens, do poeta irlandês Stephen Sexton, traduzido por Ana Guadalupe. Numa série de poemas de amor escritos durante os últimos dias de vida da mãe, o poeta funde o seu mundo ao dos irmãos Mario e Luigi, do clássico videogame Super Mario World, em que vidas e mortes são pura imaginação, mas dão um grande ensinamento: os inimigos dentro do corpo da mãe podem ser invencíveis, mas o amor consegue saltar para além da fase final do jogo da vida. Os assinantes também recebem na caixinha a plaquete O clarão das frestas, que apresenta as reflexões do poeta e editor Felipe Moreno em torno do haicai, o pequeno poema que é fruto de um “sutilíssimo espanto diante de todo e qualquer fenômeno — com preferência aos diminutos e corriqueiros” e encanta os leitores desde que Bashô cruzou o Japão com seu pincel e, por onde passou, soube demonstrar que tudo que existe é extraordinário — o salto de uma rã, um melão na lama, a lágrima do peixe.

Livro de dezembro

Quatro décadas depois de lançado, o jogo dos irmãos ítalo-americanos Mario e Luigi, dois encanadores que enfrentam inimigos nos subterrâneos do Brooklyn, é uma presença vivíssima ao nosso redor. Nas telas e também em camisetas, meias e canecas, encontramos a figura simpática desses heróis com seus inconfundíveis bonés, macacões e bigodes, que agora saltam também dentro de um livro de poemas escrito por um jovem, nascido na Irlanda do Norte, que se destaca na poesia de língua inglesa atual.

Se o mundo e o amor fossem jovens, de Stephen Sexton, é um mergulho lírico no universo de Super Mario World, em que a memória detalhista da jornada do herói da Nintendo se enreda com a relação entre o poeta aos nove anos de idade e a mãe, quando ela vivia os seus últimos dias. A cada verso, as fases da vida e as fases do jogo se fundem e se iluminam. O mundo à volta é um jogo e vice-versa.

Atento a essas fusões, o escritor Ricardo Terto, que assina o texto de orelha da edição, lembra que “morre-se inúmeras vezes em jogos, e mais: morrer faz parte do percurso de aprendizado da jornada”. Em versos densos e medidos (uma sílaba para cada um dos 16 bits do sistema), magistralmente traduzidos por Ana Guadalupe, Sexton retoma essa lição aprendida enquanto apertava os botões do controle e encontra uma porta que leva do videogame ao jogo de vida e morte de que todos participamos sem outra chance.

No fundo, vibra a esperança de que os irmãos encanadores pudessem lutar também nos corredores do hospital e, mais ainda, contra os inimigos dentro do corpo da mãe, prolongando ao máximo a fase em que ela e toda a família estão vivos. A maior vitória, enfim, é da mais inesgotável matéria de poesia e de vida: o amor.

Plaquete de dezembro

Haicai, haikai, haiku: a veneração pelos pequenos e inesgotáveis poemas da tradição japonesa — três versos que captam a beleza fugaz da vida, com imenso poder de sugestão e de reinvenção do nosso olhar — atravessa os séculos e as culturas desde que um poeta chamado Matsuo Bashô (1644-1694), um monge sem mosteiro e samurai sem espada, cruzou o Japão com seu pincel e, por onde passou, soube demonstrar que tudo que existe à nossa volta é extraordinário: o salto de uma rã, um melão na lama, a lágrima do peixe.

Nas páginas do ensaio O clarão das frestas, o poeta, ensaísta e editor Felipe Moreno sai à rua para caçar haicais (“sutilíssimo espanto diante de todo e qualquer fenômeno — com preferência aos diminutos e corriqueiros”) e encontra um mundo em que, soterrada pela brutalidade de uma forma de vida que espalha destruição, a poesia vibra nas coisas mais banais e ensina a ver tudo ao nosso redor com uma nova sensibilidade.

Diante de seu olhar agudo, as conexões mais inusitadas surgem. É assim que ele percebe a natureza resistindo: “Frio, já é noite. Ando e ninguém me vê. Calçada saliente: adoro quando as raízes de velhas árvores levantam o asfalto”. Até mesmo ao comer uma singela paçoca a vida pode surpreender: “Nenhum devaneio encantado ou assombro metafísico pode me arrancar do momento em que saboreio uma paçoca. Quando o perfeito casamento entre o amendoim torrado, o açúcar e a pitada de sal toca o paladar, toda verborragia mental é ceifada pela raiz. Aqui, eu e a paçoca somos um”.

Enquanto caminha ou pedala, Felipe Moreno consegue fazer sua trilha se encontrar com a dos grandes haicaístas, sempre conscientes de que, ao desejarmos transformar a vida em poesia, dois caminhos se misturam diante de nós: aquilo que vivemos quer se tornar poema, mas também o que sonhamos quer se concretizar na vida.

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