Voo breve sob o sol
(julho 2025)

Sobre o livro
Voo breve sob o sol é o terceiro livro de poemas da gaúcha Ana Costa dos Santos, vencedora dos prêmios Governo de Minas Gerais de Literatura e Minuano com Fabulário (2019), e finalista por duas vezes do prêmio Açorianos. Se entre os feitos mais admiráveis da poesia está a capacidade de dividir com os leitores um momento que é tão fugaz quanto eterno — fugaz como captado pelo poema, eterno porque captado pelo poema —, a poeta aqui faz com que nos deparemos, a cada página, com essa força rara, que entrega em nossas mãos os cacos ainda quentes de uma experiência que se desfaz rapidamente, mas que, ao mesmo tempo, afeta de modo indelével nossa sensibilidade.
Composto por poemas escritos antes, durante e depois da pandemia, Voo breve sob o sol sintetiza a atmosfera de insegurança que se adensou no período de isolamento (“um corpo/ ausente habita/ todos os cômodos”), mas demonstra que nossos medos não nasceram nas trevas pandêmicas, tampouco se desfizeram quando pudemos voltar à luz do sol. Em verdade: “atravesso este dia como quem/ atravessasse um rio/ perigoso// recordo a meio caminho/ que não sei nadar”.
No luto pela avó, por exemplo, que aparece “suspensa/ entre a vida e a morte”, é possível ver um horizonte mais amplo, que abraça nossa existência frágil. Somos, afinal, pássaros de “voo breve”, como tantos que batem asas nestas páginas. Procuramos luz (no sol, nos vaga-lumes, nos versos), mas colidimos. Por isso, se aquela “suspensão” se tornou mais aguda na pandemia, em momento algum ela é menos angustiante diante do olhar da poeta, que se sabe refém do acaso e da incompletude: “tudo o que escrevo quando tentava escrever outra coisa/ e tudo o que jamais caberá neste poema”.
Para nossa sorte, é sempre muito — e muito intenso — o que cabe nos versos de Ana Costa dos Santos: quando ela fala e, não menos, quando ela cala.
Este livro é parte da caixa de julho 2025
- título Voo breve sob o sol
- autor Ana Costa dos Santos
- Páginas 112
- ISBN 9786561390828
- Formato 13,5 x 20 cm
Trecho
Voo
Morto, o pássaro
está a salvo:
não há risco após a queda.
Então por que me espantam
seu sono,
seu silêncio,
o baque ao pé
da árvore, igual
ao de uma fruta
podre
qualquer,
seu corpo dissecável,
onde, buscando, eu acharia
uma garganta, um coração
quieto?
Dizem que certos pássaros
dormem voando —
este talvez
voe dormindo.