Sobre o livro
Este livro é a estreia tão aguardada da poeta carioca Juliana Krapp, mas seus versos já circulavam desde início dos anos 2000, quando a autora começou a publicar esparsamente poemas em revistas e antologias no Brasil e em outros países, encantando e desconcertando leitores.
Tais poemas, reunidos em Uma volta pela lagoa, se caracterizam pelo jogo entre profusão e contenção de palavras. Mistura atípica, aliada a uma contundência, que deu à poética de Krapp uma dicção singular no panorama da recente poesia brasileira.
A esses textos esparsos se somam agora poemas recentes mais longos e com versos que pressionam a palavra contra a margem da página. A profusão aqui se dá de modo mais discursivo e caudaloso, nem por isso menos concentrado e condensado.
Imagens como as do coágulo, grumo, gomo e punção são recorrentes nos poemas da autora e elas falam, entre outras coisas, das diversas formas de feridas que historicamente se acumulam sobre os corpos da língua, alvos de violência, como o das mulheres.
O poeta Ricardo Domeneck escreve na orelha do livro: “A investigação da autora trabalha com uma linguagem e um corpo específicos, recusando-se a falar como abstrato membro da espécie — sem gênero, sem História, sem dor própria. Ela está sempre atenta ao símbolo que é signo.”
Há tempo se esperava um livro com os poemas de Juliana Krapp e agora, com ele em mãos, podemos “colar o ouvido às conchas / procurando / desentranhar um uivo uma fenda uma / possibilidade de voz talvez a única / que ainda ressoe”.
Este livro é parte da caixa de junho 2023
- título Uma volta pela lagoa
- autor Juliana Krapp
- Páginas 104
- Formato 13,5 x 20 cm
- Capa Alles Blau
- Data de Publicação 01/06/2023
Trecho
Não havia ainda metrô, cinematógrafo, neon
retido na névoa. O jeito
era burlar as regras, vencer o rio serpeante
o desejo a chiar sob a couraça
E então lá está ele: o inferno
não muito diferente do que é hoje
Onde há sempre a trama de vapores e uma mulher
que acaba de chegar
com seu corpo envenenado
Onde o ritmo e a órbita
atiçam a índole do olho: fixar o amor
na forma de um inseto se debatendo contra o vidro