Poesia completa
(dezembro 2025)
Sobre o livro
O nome de Gilka Machado vem recebendo merecido destaque na lista dos nossos — não apenas das nossas — grandes poetas de todos os tempos. Nascida no final do século xix, Machado estreou muito jovem, entre a influência parnasiana e simbolista e a efervescência modernista, mas trouxe desde o início marcas pessoais muito fortes para o cenário da poesia. Sua paixão pelos prazeres da existência é inconfundível. Já em seu primeiro livro, no poema “Sândalo”, o perfume é a “volúpia da terra”: “Odor que o sangue inflama e que um desejo imenso/ de prazeres sensuais em nossas almas ferra”.
Ainda adolescente, Gilka Machado conquistou prêmios com seus versos, mas, se o apuro técnico justificou o reconhecimento de críticos e de seus pares mais ilustres (de Olavo Bilac a Mário de Andrade e Drummond), o erotismo e a liberdade feminista de sua obra sempre foram motivo para difamações no meio intelectual. Não foram poucos os que a atacaram, mas isso não impediu que os leitores e leitoras aplaudissem seu talento.
Em nota autobiográfica escrita em 1978, a poeta afirmou: “Sonhei ser útil à humanidade. Não consegui, mas fiz versos. Estou convicta de que a poesia é tão indispensável à existência como a água, o ar, a luz, a crença, o pão e o amor”. Sem dúvida, a poesia de Gilka Machado — livre, revolucionária, brilhante — é indispensável.
Poesia completa reúne integralmente os livros Cristais partidos (1915), Estados de alma (1917), Mulher nua (1922), Meu glorioso pecado (1928), Sublimação (1938) e Velha poesia (1965), com texto fixado a partir da última edição cuidada pela autora. O volume traz ainda um posfácio escrito pela organizadora, a jornalista Jamyle Rkain; um ensaio de Nádia Battella Gotlib, professora aposentada da Universidade de São Paulo (usp); e um depoimento concedido pela poeta em 1979, a Nádia Battella Gotlib e Ilma Ribeiro.
Este livro é parte da caixa de dezembro 2025
- título Poesia completa
- autor Gilka Machado
- ISBN 9786561391023
- Páginas 480
- Formato 13,5 x 20 cm
Trecho
Rio
Da pétrea catedral de esplêndida cascata,
como de monjas longa e estranha procissão,
de águas alvo cortejo, em curvas, se desata,
entoando religioso e frio cantochão.
E, às vezes, esbordoando as rochas, pela mata,
ronca o rio raivoso em plena solidão,
e toda a frágil flor ripícola arrebata,
sepultando o que nele achara berço, então.
Há no rio a tristeza, a cólera e o prazer,
em seu constante curso ele os manifesta
todas as vibrações vitais do humano ser.
E julgo-o, quando o vejo espreguiçado à sesta,
um sátiro, com o corpo encurvado, a lamber
o ventre virginal e verde da floresta.