Sobre o livro
Ruy Duarte de Carvalho, poeta e antropólogo angolano, passou longos períodos no Sul do país, no território kuvale, povoado de pastores nômades que lidam com gado e leite, e aprendeu com eles não só seus hábitos da terra, mas também suas tradições, rituais e cantos.
O escritor, então, registrou e traduziu de forma bem singular essas manifestações orais, compondo poemas em língua portuguesa. Antes disso, já tinha feito o mesmo com diversos testemunhos orais de outros povos e etnias pela África afora, colhendo matéria oral ou pesquisando e traduzindo poeticamente textos recolhidos por outros antropólogos e poetas ao longo dos séculos XIX e XX.
O resultado dessas imersões criativas de Ruy Duarte de Carvalho pode ser visto nos já clássicos da literatura angolana Ondula, savana branca, de 1982, e Observação directa, de 2000, livros que agora se encontram pela primeira vez reunidos nesta edição brasileira. Reunião riquíssima, um baú aberto de legados e heranças da cultura oral que não folcloriza a África, pelo contrário, altera o que se entende por poesia em língua portuguesa, já que não é a língua do colonizador a formatar tais tradições orais, e, sim, ela que é transformada para receber essa pulsante matéria de vida.
A presente edição conta com um texto de orelha de Rita Chaves e um posfácio de Prisca Agustoni, ambas pesquisadoras da poesia africana em língua portuguesa.
Este livro é parte da caixa de junho 2022
- título Ondula, savana branca
- autor Ruy Duarte de Carvalho
- Capa Alles Blau
- Páginas 216
- Data da publicação 1/6/2022
Trecho
Aquilo que eu sei
alguém mo legou.
Pai Palavra
Mãe Palavra
Palavra anterior
vem e transforma já o meu futuro.
Repartamos a carga pelas nossas cabeças
oh filhos dos fragmentadores do céu
unamos a perseverança do aprendiz
à perseverança do mestre.
Transformação!
Acalmai-vos
fragmentadores alados do crepúsculo
eu sou a Palavra
a abóbada celeste
o encontro dos espaços.
A noite é escura vazia não é.