A morte também aprecia o jazz
(fevereiro 2023)
Sobre o livro
No novo livro de Edimilson de Almeida Pereira, as formas do jazz e de outros ritmos da afro-diáspora levam o poeta a reunir linguagens e artistas dos mais variados tempos.
São convocados pelos versos de Edimilson não só os scats de Dizzy Gillespie e a voz da grande Elizeth Cardoso, mas também o afrobeat do Cobiana Djazz, grupo de Guiné-Bissau cujos membros lutaram na independência do país.
A música desse grande baile também convida para a dança outras linguagens, entre elas a das pinturas do cubano Wifredo Lam ou a dos versos de León Damas, poeta da Guiana-Francesa.
Tais deslocamento e travessias também mobilizam os poemas de forma trágica e contundente, como no caso dos versos protagonizados por Agitu Gudeta, ativista etíope que se voltou para a causa dos refugiados e foi assassinada na Itália; ou, ainda, no caso dos versos dedicados a Paul Celan, poeta romeno de língua alemã morto no rio Sena.
Porém, como escreve Claudete Daflon no texto de orelha, “Evocando a morte, Edimilson de Almeida Pereira nos joga em cheio no centro da vida”. E é do centro dessa vida pulsante que esses poemas nos convidam para dançar.
O livro conta com posfácio de Michel Mingote Ferreira de Ázara e edição de Bruna Beber.
Este livro é parte da caixa de fevereiro 2023
- título A morte também aprecia o jazz
- autor Edimilson de Almeida Pereira
- capa Alles Blau
- páginas 144
- edição Bruna Beber
- data de publicação 01/02/2023
Trecho
Essa ausência existe pelo ritmo
daquela tarde — estávamos
alheios à vida.
No quarto ouvia-se a vitrola
de um vizinho: Elizeth Cardoso
quebrava ondas numa praia
anterior ao Rio de Janeiro
(de
onde vinham?
breves
longas
livres da intempérie
como todos — era domingo).
Nós que incendiamos fábricas
e contratos
temos direito ao que vale
uma tarde em sua falta.
Se me dissessem: “a certa altura
tudo para”
eu ficaria no instante em que ela,
mão entre os cabelos,
abriu uma gaveta da penteadeira.
Ela,
talvez o mar lá fora esperando
por nós,
inundou o mundo —
polvos
flores num vestido
e guelras
inocularam em mim
outra voz soando fora do disco.