Caixa do mês

Caixa – Outubro 2024


Sobre a caixa

A caixa do mês inclui O dia, de Mailson Furtado, consagrado autor de à cidade (vencedor do prêmio Jabuti 2018 nas categorias Poesia e Livro do Ano). Depois de nos lançar no meio das ruas cheias de vida de sua pequena Varjota, no sertão cearense, agora o poeta nos arrasta para dentro de casa, onde uma noite insone, prensada entre um dia que não vai embora e outro que não quer chegar, é a metáfora precisa para estes tempos convulsivos que estamos vivendo. Também vai na caixinha de outubro a plaquete Inferninho, de Natasha Felix, resultado da experiência de se jogar nos “apupús” (gíria angolana para “rolês”) de Luanda e voltar espalhando a energia do kuduro pelas trilhas da poesia, arrombando as portas para um universo em que as palavras passam pelo corpo todo, deslocam as margens da página e chacoalham tudo ao redor.

Produtos da caixa

Mailson Furtado despontou entre os poetas de sua geração com versos que convidam os leitores a um passeio pela pequena Varjota, no sertão cearense: à cidade, editado pelo próprio autor, ganhou não apenas o Jabuti de melhor livro de poesia, como arrematou também a premiação máxima daquele 2018: a de livro do ano. Trata-se de um longo poema ensolarado, em que a vida cruza as ruas (e vice-versa) e toda a paisagem se agita diante dos olhos curiosos de um poeta que, a cada palavra, com ela se confunde.
Em O dia, saímos da cidade de Furtado para uma casa onde — apesar do caminho sugerido pelo título — é noite; “e/ toda a vida cabe/ nesta noite”. O “poema em ato único” tece as horas insones, prensadas entre um dia que não vai embora e outro que não quer chegar. Não há amanhã, não há mundo, não há tempo: tudo que existe é a noite ao longo da qual o poeta enfrenta suas tantas inquietações a respeito da vida — do que ela se tornou nestes dias que não nos deixam dormir — e o monólogo que dá a elas como resposta, com a velocidade e a clareza características de sua poesia.
Esta é uma obra de um poeta maduro, muito consciente do que pretende tocar e revelar com seus versos. Nas palavras de Micheliny Verunschk, que assina o texto de orelha, temos “a construção de certa poética da insônia, esta que, na obra de Furtado, se desfia em um tecido político que fala ao tempo que nos coube viver”. Rasgando esse tempo, sob o céu de sol escaldante ou recolhido, um poeta como Mailson Furtado consegue fazer com que as palavras brilhem e iluminem a vida até mesmo sob as sombras mais pesadas.

Se uma plaquete quiser transportar a poesia de Natasha Felix, ela tem de ser capaz de vibrar e acolher o palco, a pista, o baile todo. Tem de ser um Inferninho. Desde a estreia da poeta com Use o alicate agora (Macondo, 2018), era fácil perceber que o que acontecia no texto escrito passava pelo corpo todo: a palavra de Natasha desloca as margens da página e chacoalha tudo ao redor.
Em Inferninho, a artista remixa fragmentos da experiência ao longo de doze dias em Luanda e sua pesquisa em torno da performance, a partir do desejo de “fazer o poema rebolar”. Não por acaso, a palavra disparadora dessa cena construída no livro é “apupú”, uma gíria angolana — nascida na cultura do kuduro — para “festa”, “rolê”. A plaquete desdobra a performance Apupú, em que poetas e artistas da dança, da música e do teatro se encontram para trançar as relações entre Brasil e Angola no som, na voz, no corpo.
Dançando entre as palavras de Inferninho, não são poucas as vezes em que ouvimos a voz da poeta vindo de longe das páginas. É estranho, mas é como se o som não se projetasse das letras no papel para nossa cabeça, mas, sim, fizesse o caminho contrário, girando pelos nossos sentidos, pela nossa memória, até tocaralto e grave: “como pode um zunido correr solto assim ó/ fazer essa algazarra/ agarrar na pele”?

ATENÇÃO

As compras de produto e assinatura são feitas separadamente. Para adicionar o produto em seu carrinho vamos esvaziá-lo primeiro.
Aceitar