Inferninho
(outubro 2024)
Sobre a plaquete
Se uma plaquete quiser transportar a poesia de Natasha Felix, ela tem de ser capaz de vibrar e acolher o palco, a pista, o baile todo. Tem de ser um Inferninho. Desde a estreia da poeta com Use o alicate agora (Macondo, 2018), era fácil perceber que o que acontecia no texto escrito passava pelo corpo todo: a palavra de Natasha desloca as margens da página e chacoalha tudo ao redor.
Em Inferninho, a artista remixa fragmentos da experiência ao longo de doze dias em Luanda e sua pesquisa em torno da performance, a partir do desejo de “fazer o poema rebolar”. Não por acaso, a palavra disparadora dessa cena construída no livro é “apupú”, uma gíria angolana — nascida na cultura do kuduro — para “festa”, “rolê”. A plaquete desdobra a performance Apupú, em que poetas e artistas da dança, da música e do teatro se encontram para trançar as relações entre Brasil e Angola no som, na voz, no corpo.
Dançando entre as palavras de Inferninho, não são poucas as vezes em que ouvimos a voz da poeta vindo de longe das páginas. É estranho, mas é como se o som não se projetasse das letras no papel para nossa cabeça, mas, sim, fizesse o caminho contrário, girando pelos nossos sentidos, pela nossa memória, até tocaralto e grave: “como pode um zunido correr solto assim ó/ fazer essa algazarra/ agarrar na pele”?
Esta plaquete é parte da caixa de outubro 2024
- título Inferninho
- autor Natasha Felix
- Páginas 40
- Formato 13,5 x 20 cm
- ISBN 978-65-6139-007-1
Trecho
Tamos mbora todos no apupú
Depois das cinco da manhã
tamos finalmente na mão do palhaço
a beleza é sim um método
então me prova
meu memorial minha lâmina no baile
como vai ser isso de sermos bwé felizes
debaixo dessa lona cheia de insubordinadas
enquanto essa febre durar